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Capítulo 1 – Romance Dawn, o amanhecer de uma aventura


Naquela pequena vila portuária, a paz parecia reinar absoluta. Até que, em uma manhã qualquer, um pequeno garotinho de cerca de 6 anos que morava na vila, resolveu quebrar a rotina pacata da cidade e subir no gurupés*, que tinha o formato de um dragão feito com traços minimalistas, de um navio que já estava atracado naquela região há mais ou menos um ano.

Se ele tivesse subido em qualquer um dos outros barcos que ali estavam, esse evento seria indigno de nota. Mas como o vento leste soprava forte naquele dia, foi fácil notar a bandeira que tremulava no mastro principal daquele navio. Ela era negra com a pintura de duas espadas cruzadas e por cima delas uma caveira com três listras vermelhas cortando diagonalmente a região que uma vez, pertencera ao olho esquerdo daquele crânio.

Aquela bandeira inspirava medo para os que a viam, confiança para aqueles que estava sobre ela e segurança para quem nunca teve que por os olhos em uma. Era uma Jolly Roger, uma bandeira pirata.

– Ô, Luffy, o quê você vai fazer? – uma voz surpreendentemente amistosa, que vinha de dentro do navio pirata, irrompeu o silêncio.

– Hm! Eu não tô brincando não! Já tô cheio disso! – o garotinho se chamava Monkey D. Luffy. Ele estava prostrado no ponto mais alto do gurupés, virado para a tripulação do navio, tinha uma séria expressão no rosto e empunhava uma adaga no braço esquerdo que acabara de erguer – Agora eu vou provar pra vocês!

Então um sujeito com um chapéu de palha e um camisão largo, gritou em resposta lá do meio do convés.

– Hã, hã. Ok!  Mostra aí! Seja lá o que for! – E alguém do lado dele complementou – Lá vem o Luffy aprontando mais uma!

Mas para a mais completa surpresa de todos que viam aquela cena, o garotinho pegou a adaga com as duas mãos, viro-a para si e sem a menor cerimonia, forçou-a em direção ao seu rosto. Com a lâmina, fez um corte do tamanho de uma sobrancelha, logo abaixo do seu olho esquerdo.

– Quê…?! S… Seu idiota! O quê pensa que tá fazendo? – todos os piratas gritaram em uníssono enquanto o garoto começava a gemer de dor.

——

 Depois do que aconteceu, todos se dirigiram para a pequena adega que sempre freqüentavam naquela pequena vila.

Um brinde companheiros!! – um dos piratas iniciou o brinde – À fibra do Luffy… E ao sucesso da nossa jornada!!

Os piratas e o garoto, estavam sozinhos no bar e agiam como se estivessem em casa. Comiam de tudo, bebiam quantidades absurdas de álcool, fumavam, falavam alto, colocavam os pés em cima das mesas, enfim, o clima era de festa. Vira e mexe podia-se ouvir coisas desse tipo.

– Há, há! Vamos beber cambada! – algum dos piratas incentivava – Cerveja! Cadê a cerveja? Traz mais aqui! – e outros respondiam.

– Ô seu ladrão! Essa carne é minha! – e eventualmente até brigavam pela parte mais suculenta da comida – Sai fora! Agora é minha!

– Para com isso, dois bêbados brigando é o fim da picada!!  – mas no final o clima era de companheirismo e todos estavam se divertindo.

Enquanto isso, sentado no balcão do bar, Luffy conversava com o pirata de chapéu de palha.

Olha só! Não doeu nada… – o garoto estava apontava o dedo para sua mais nova cicatriz no rosto. Mas estava claro que ele mentia descaradamente, pois se esforçava para não chorar de dor.

– Mentiroso! Se liga na besteira que você fez!! – disse com raiva o pirata.

– Mas eu não tenho medo de me machucar, tá?! Por isso, vocês bem que podiam me levar na próxima viagem né?! – falando isso, Luffy perdeu completamente a dor e abriu um largo sorriso – Eu tô louco pra ser pirata!!

– Quê? Você nunca vai ser um pirata!! – rebateu o pirata com quem o garoto estava falando. Seu nome era Shanks, e sua alcunha era O Ruivo, ele era o capitão daqueles piratas. Shanks podia ser reconhecido por suas três principais marcas pessoais. Seu cabelo vermelho sangue, seu chapéu de palha que sempre carregava consigo e sua temível cicatriz em diagonal atravessando seu olho esquerdo. Parecia que um lobo havia enfiado três enormes garras no meio de sua testa e rasgado sua pele até quase sua orelha. – Onde já se viu um pirata que não sabe nadar?!

– Ué! É só eu não cair na água! – Respondeu Luffy, na maior cara de pau. – E eu sou bom de briga, viu?! – acrescentou. – Tenho treinado duro! Meu soco é forte como uma pistola!! – Ao terminar de falar isso, ainda imitou o barulho de uma. – Pow!

– Pistola? – comentou um desacreditado Shanks – Ahã… Sei…

– Tá duvidando de mim, é?! – Resmungou Luffy.

E os dois poderiam ter ficado ali discutindo durante muito tempo, mas lá de trás, aonde estava acontecendo aquela algazarra toda, um pirata extremamente gordo, de óculos escuros e camisa listrada verticalmente, comentou:

– Ei, Luffy! Deixa esse mau humor de lado! Pega leve! Para um pirata é tudo curtição!

Então um sujeito moreno, de brincos e com uma tiara prendendo seus dreads, que estava ao lado do gordão complementou:

O mar é grande! É imenso! Tem muitas ilhas para se aventurar! E o melhor de tudo é que somos pássaros livres para voar!

Ouvindo tudo aquilo, a vontade do garoto de se tornar um pirata ficou ainda maior. Já estava até abrindo um largo sorriso quando Shanks veio derramar um balde de água fria em cima das expectativas dele:

– Ei, vocês aí! Parem de botar minhocas na cabeça dele! – E em resposta, ouviu dos seus companheiros piratas – Mas a gente só está falando a verdade…

Então um tripulante que tinha a tatuagem de um naipe de espadas no canto da testa e que até então havia ficado calado comentou:

– Ah chefe, dá uma chance pra ele. O que custa levar o menino em pelo menos uma viagem? – nessa hora os outros piratas que estavam ouvindo aquela conversa, emitiram sons para manifestarem a aceitação àquela sugestão. – Uhum!

– Se eu fizer isso, então alguém vai ter que ficar em terra para dar lugar a ele. – Com isso Shanks conseguiu encerrar a discussão imediatamente, e só deu tempo de ver aqueles que uma vez estavam a favor do menino, virarem-se e comentar – Ok, fim de papo! Vamos beber!

Ao ver aqueles que o estavam ajudando, indo embora, Luffy gritou:

– Pô, vocês não estavam do meu lado?! – Mas parece que nem um deles estava disposto a abdicar de suas posições como piratas.

O problema é que você ainda é muito criança. – falou Shanks para o garoto que estava ficando cada vez mais nervoso. – Daqui a dez anos, até posso pensar no seu caso.

– Ah Shanks! Para de ser chato!! Eu não sou criança, tá?! – retrucou Luffy, quase soltando fumaça pela orelhas de tão nervoso.

– Ah, não fica bravo comigo. – nisso o Ruivo abriu uma garrafa de leite, serviu um copo e passou para o menino – Toma um leitinho para acalmar vai…

– Oba, valeu! – parecia que Luffy tinha esquecido completamente o seu nervosismo. Pegou o copo e imediatamente bebeu quase todo o conteúdo.

– Da! Há! Há! Há! Há! Bebendo leitinho com essa vontade toda e ainda diz que não é criança!! – Shanks sacaneou.

– Eí, isso não vale! – o garoto rosnou quando percebeu que foi zoado. Desiludido, saiu de perto do Ruivo e foi parar ao lado de um pirata de cabelos compridos e com cicatrizes em ambos os braços, que estava fumando sentado em uma mesa ali perto. Ao chegar ali, nem se deu conta da presença do sujeito e resmungou – Hunf! Cansei! Nem com essa cicatriz no rosto ele se convence?!

– Luffy – respondeu o sujeito – Você precisa entender o lado do chefe.

– Imediato!* – se assustou Luffy ao perceber com quem estava falando – Como assim, o lado do Shanks?

– Veja bem… pode não parecer, mas ele é o cabeça que comanda um navio inteiro. Se, por um lado, ele conhece as alegrias de ser um pirata… Também conhece na pele a dureza e os riscos desta profissão. – Vendo que Luffy não estava compreendendo, continuou – Você entende? Não é que ele esteja desprezando essa sua grande vontade de ser um pirata.

– Não entendo não! O Shanks só está se divertindo às minhas custas. – Nisso ele se virou e apontou na direção do capitão, que ainda estava rindo dele. – Viu só?!

Nessa hora, Makino, a bela e jovem dona do bar, entrou carregando mais um barril de cerveja para os piratas. Vendo Shanks rindo, comentou:

– Sempre alegre, hein, capitão?

– Ah, sim! Implicar com ele é o meu passatempo predileto! – Respondeu Shanks olhando na direção do garoto.

Então o imediato, que havia acompanhado a conversa do seu capitão com a dona do bar se virou para o Luffy e concluiu:

– É, você tem razão. Ele adora se divertir às suas custas.

Mas para quebrar aquele clima, Makino sugeriu:

Luffy, você quer comer alguma coisa?

– Claro! Põe na ”conta do tesouro”… – Alegrou-se Luffy.

lá vem a golpe da “conta do tesouro”! – comentou Shanks, que observava a conversa de perto – Você tá tentando enrolar né?!

– Não tô, não!! – respondeu Luffy, já pegando os seus talheres – Quando eu for pirata e encontrar o meu primeiro tesouro, venho pagar a conta aqui no bar!

– Hu, Hu, Hu! Já estou ansiosa, viu? – divertiu-se Makino, enquanto servia um prato para Shanks e um para Luffy.

Depois de já ter comido mais da metade de sua refeição em silêncio, Luffy virou-se para o capitão dos piratas.

– Shanks… – disse enquanto ainda brigava para arrancar no dente, um pedaço de carne. O garoto parecia preocupado.

Que é? – respondeu o Ruivo, enquanto comia mais uma porção de arroz de seu prato.

Quanto tempo mais vocês vão ficar na vila? – completou o menino.

– Deixe me ver… – Shanks analisou – já faz mais de um ano que usamos esta vila com base, né? – o pirata parou pra pensar – Acho que mais umas duas ou três viagens e a gente sai pra algum lugar mais ao norte.

– Hmm… – Luffy soltou um grunhido de satisfação, depois de finalmente conseguir arrancar uma mordida do pedaço de bife – Mais duas ou três vezes… só? – Respondeu com a expressão visivelmente triste. Mas então se lembrou de uma coisa que o fez achar que tinha uma chance –  Até lá, eu vou aprender a nadar! – pegou um pedaço de pão.

– Isso é ótimo! – Shanks respondeu – É melhor se virar! Boa sorte!

Foi então que de repente, alguém chutou a porta do bar, causando um enorme estrondo e chamando a atenção de todos ali presentes.

– Dá licença aí. – Um sujeito que estava à porta falou. Quase era possível lamber o cinismo em sua voz – Yo, ho… Então, esses são os famosos piratas do mar, é…? – Era um homem alto, com uma barbixa pontuda, estava com a camisa de botões aberta, deixando a mostra, um cordão de pequenas esferas que estava por cima da camiseta branca que vestia por baixo, mas que mal tapava seu peito. – É a primeira vez que vejo… tanta cara de otário junta na minha vida. – Saiu da porta e começou a andar em direção ao bar.

            Todos o olhavam, menos um certo pirata com chapéu de palha. No entanto, apesar de prestar atenção, Luffy continuava comendo compulsivamente. Agora acabara de pegar uma fruta qualquer.

– Somos ladrões da montanha – anunciou o sujeito ao chegar no balcão. Ele tinha uma cicatriz em formato de x no lado direito da testa. Seu nome era Higuma. – Mas… não viemos assaltar o seu bar, não. – disse olhando em direção a Makino – Só quero comprar umas bebidas. Uns dez barris está bom.

            – Sinto muito… – respondeu a jovem amedrontada de traz do balcão – Mas a bebida acabou.

            – Hmm? – O bandido olhou ao redor e retrucou – Que estranho. Então, o que esses piratas estão bebendo? – Foi até a direção de Shanks, apontou para a garrafa que ele estava bebendo e perguntou – Isso é água, por acaso?

            – Não, o que eu estou dizendo… – Makino interveio antes que o pirata pudesse abrir a boca – É que essa era toda a bebida que tinha em estoque…

Ô, desculpa aí… – Dessa vez foi Shanks quem falou. – Parece que a gente acabou com toda a bebida do bar, né? – E com cara de sem graça acrescentou – Foi mal… – Nisso ele pegou sua própria bebida e ofereceu ao desconhecido – Se não se importar, pode levar esta garrafa. Ainda está fechada.

Higuma olhou com desdém para o ato de Shanks, mas pareceu aceitar o presente. Pegou a garrafa da mão do Ruivo, e sem ao menos piscar, quebrou-a na cabeça do pirata. E enquanto a tripulação pirata observava apreensivamente a situação, o bando de ladrões agiam com ar de superioridade. Embora o número de piratas e ladrões fossem equivalentes.

– Qual é, seu merda?! Pensa que tá falando com quem? –Indagou Higuma à um Shanks visivelmente abalado. – Não vem com gracinhas não… Uma garrafa não dá nem para molhar a garganta!

– Poxa… – Lamentou Shanks, completamente alheio ao que o bandido estava dizendo – Molhou o chão todo…

-Tá vendo isso aqui? – perguntou Higuma ao desenrolar um rolo de papel que acabara de tirar de suas vestes – Minha cabeça vale oito milhões de berries. – disse apontando para o cartaz de procurado que tinha em suas mãos – Sou um procurado de primeira categoria… Já matei cinqüenta e seis vermes como você. Então se você entendeu, vê se sai da minha frente e toma cuidado. Apesar de que, comigo nas montanhas e você no mar, vai ser difícil a gente se cruzar de novo.

– Desculpa por isso, viu, Makino-san? – Shanks continuava agindo como se Higuma não estivesse ali. Abaixou-se e começou a recolher os cacos de vidro da garrafa. Até parecia que ele que tinha derrubado a bebida no chão. – Tem um pano aí pra enxugar o chão? – perguntou para a dona do bar.

            – Gosta de limpar o chão, não é? – Irritado por ser ignorado por Shanks, Higuma sacou sua espada e com um rápido movimento, jogou ao chão, todos os objetos que estavam em cima do balcão do bar. – Assim você tem mais com o que se divertir, certo…?! – E com um rápido giro, se virou e foi em direção a porta. Antes de sair comentou para que todos ouvissem – Tchauzinho, bando de frouxos! – já do lado de fora, virou para o seu bando e falou – Sem bebida, não tem graça. Vamos para outra cidade… – E assim foram embora.

Makino agachou-se ao lado de Shanks, que estava caído com as costas apoiadas no balcão, desde que o bandido atirara os pratos ao chão.

Capitão, você está bem? –  perguntou a jovem – Se machucou?

– Ah… tô bem, não se preocupa não – soltou um suspiro, e abriu um sorriso – Pff!!

Então a atmosfera que até então era de pura tenção, subitamente mudou da água para o vinho e todos os piratas do navio do Ruivo começaram a gargalhar compulsivamente.

– Daaa, há, há, há, há! Mas que mico, hein, capitão?! – comentou o pirata mais gordo de todos – Ele te pegou em cheio!!

– Há! Há! Há! Há! Há! – Agora até o Ruivo estava gargalhando sem a menor cerimônia.

Luffy que agora já tinha terminado de comer, se levantou, foi em direção ao Shanks, e berrou completamente indignado.

– Vocês estão rindo do que?! – os piratas olharam para ele sem entender a reação do garoto – que papelão foi esse?! – dirigiu-se ao líder dos piratas –  Por que você não reagiu Shanks?! – Luffy estava vermelho e as veias da testa do garoto chegavam a saltar tamanha a sua raiva, mas continuou – Tá certo que eles eram muitos e pareciam fortes!! Mas homem que é homem, não fica rindo depois de sofrer uma humilhação dessas!! – o garoto estava tão nervoso que chegava a pingar de suor – Isso não é atitude de um pirata!

– Eu até te entendo… – o capitão comentou, ainda meio sem graça de ter levado um esporro de um moleque de 6 anos – Mas foi só uma bebida na cara, nada que justificasse uma briga. – concluiu Shanks.

– Não quero saber!! – Luffy se virou para ir embora. Estava muito bravo com aqueles piratas. Eles o decepcionaram. – Eu não falo com covardes!!

– Ô, peraí Luffy… – comentou Shanks ao segurar seu braço do menino, para tentar evitar que ele fosse embora, porque apesar de implicar muito com ele, no fundo ele adorava aquele moleque.

Foi quando aconteceu algo que chocou a todos. Enquanto Shanks segurava Luffy pelo braço, o garoto, que estava completamente decidido, continuou sua caminhada até a saída. No entanto, ao chegar no meio do caminho, notou que Shanks continuava o segurando, mas não fora o Ruivo que o acompanhara em sua rota até a saída. O que aconteceu, foi que seu braço simplesmente esticou por todo o caminho que percorrera Agora, a distância de seu ombro até o seu pulso, era de mais de cinco metros. Algo de muito errado havia acontecido ali.

– Hã?! O braço dele esticou?! – Falou um Shanks completamente consternado, enquanto soltava o braço do garoto.

– O que tá acontecendo comigo?! – berrou Luffy ao ver que quando Shanks soltou seu braço, o mesmo voltou, num movimento ágil, imediatamente ao lugar.

Mas parece que alguém entendeu o que havia acontecido. O pirata gordo e de camisa listrada, começou a rapidamente procurar algo, e então sua expressão facial mudou completamente. De surpreso com aquela situação, passou a ter medo. Pegou um caderno e rabiscou algo. Virou-se para os piratas e comentou.

– A tal “Gomu-Gomu-no-mi”, que pilhamos do navio inimigo sumiu! – dessa vez se virou para o Luffy e tenso, lhe mostrou o que havia desenhado no caderno – Luffy, por acaso você comeu uma fruta parecida com essa? – o desenho era de uma fruta que se parecia com uma laranja, mas era roxa, e sua casca parecia ter uma série de padrões circulares desenhados.

– S… Sim! – respondeu Luffy ainda meio sem graça, sem entender o desespero daquele pirata. – Ela estava em uma caixinha ali perto do balcão. Achei que fosse a sobremesa – começava a achar que aquele pirata gordo queria a fruta só pra ele – Mas tava tão ruim… – acrescentou Luffy para tentar remediar a situação.

– Então você não sabe o que é a Gomu-Gomu-no-mi?!! – Dessa vez foi Shanks quem falou – Ela é um dos tesouros dos mares, pode fazer de qualquer um, um homem rico! Ela também é conhecida como Akuma-no-mi, a fruta do diabo! – Shanks estava visivelmente nervoso, coisa que não combinava com a sua personalidade calma e controlada – Quem come a Gomu-Gomu-no-mi, se transforma em um homem borracha!! E  nunca mais consegue nadar! E esse é o pior pesadelo pra qualquer pirata!

– Ah não!! – Lamentou Luffy.

—— 

Feliz da vida, Luffy foi correndo à peixaria da vila. Já haviam se passado alguns dias desde que comera a fruta do diabo.

– Me vê um peixe, tio peixeiro! – disse com um sorriso no rosto.

Oi Luffy! Alegre como sempre, hein? – o peixeiro comentou – Hoje, os piratas saíram de viagem e te deixaram pra trás de novo, não foi? – curioso, acabou perguntando – E esse corpo de borracha? É verdade que nunca mais vai conseguir nadar?

É verdade, mas não tem problema não… Se eu não posso nadar, vou virar um pirata que nunca caí do navio! – Respondeu o garoto – E, na verdade, eu to até feliz, porque essa tal de gomu-gomu-no-mi… – enquanto falava, pegou suas bochechas com cada uma das mãos e puxou-as até seus braços ficarem esticados. Uma cena completamente bizarra. – me transformou em um homem-borracha.

Por trás do garoto, surgiu um senhor baixinho, com barba por fazer, óculos, um chapéu que mais parecia um vazo de planta e uma muleta.

– E daí que é engraçado e que a vila toda se diverte vendo você fazer isso? Do que adianta? – resmungou o senhor – Um corpo que estica como borracha? Grande coisa!

– Seu prefeito! – Exclamou Luffy ao se virar.

Vou repetir quantas vezes for necessário, Luffy! Não vou permitir que você se torne um pirata, ouviu?! – E o velho não cessava seu esporro – Isso seria a vergonha da vila! – Enquanto o prefeito falava, Luffy, num típico gesto infantil, tapou os ouvidos para não ouvi-lo, mas ele continuou – Aquele capitão parece ser sensato, mas você está proibido de andar com eles!!

——-

O Partys Bar, que outrora estivera lotado, agora permanecia em seu estado habitual. Completamente vazio. Dentro dele, apenas duas pessoas.

– Já faz tempo que o capitão e seus homens saíram de viagem, não? – Perguntou Makino enquanto lavava alguns copos – Está com saudades, Luffy?

– Nem um pouco! Eu ainda não perdoei o Shanks, tá? – respondeu o garoto, enquanto brincava com os gelos que estavam em seu copo. – Eu me enganei sobre ele e os outros! Achei que eram piratas destemidos… Que decepção.

– Será? A meu ver, é muito mais valente aquele que consegue rir de uma situação como aquela.  – Comentou a dona do bar.

– Makino, você não entende nada disso. – Se emburrou Luffy – Tem momentos na vida de um homem em que ele precisa lutar!!

– É mesmo…? Disse rindo – Poxa, que boba eu sou.

– É boba mesmo… – A porta do bar se abriu.

Com licença… – Eles já haviam escutado aquela voz antes. Antes mesmo de se virarem para constatarem quem era, já sentiram um arrepio subindo a espinha. – Ah, sem piratas hoje…? Bem que o lugar parecia mais calmo mesmo… – Higuma estava de volta ao bar. – Estávamos de passagem e resolvemos brindar este lugar com a nossa presença. – Ele e toda a sua gangue entraram no bar e ocuparam todas as mesas. – Não tá vendo os fregueses aqui?! – Perguntou ao perceber que Makino não havia se movido – Bebida para todos! Agora!

——

A jovem corria. Estava suada, ofegante e cansada, mas precisava correr o mais rápido que podia. Quando chegou, não sabia se ainda teria tempo. Abriu a porta do gabinete e implorou.

– Senhor prefeito! Socorro!

– Que afobação toda é essa, Makino? – Perguntou, enquanto abaixava a sua xícara de café que mal estava prestes a beber, quando a dona do bar o interrompeu – O que foi?

– É o Luffy! – Exclamou enquanto ainda tentava recuperar o ar – Os ladrões da montanha o pegaram…!!

——

Preso pelo pescoço, o garoto não tinha a menor chance. Os pés do garoto pendiam a mais de um metro do chão, pois Higuma segurava Luffy à altura de seu ombro.

– Que corpo engraçado, hein?! – com a mão livre, segurou em uma das bochechas de Luffy e esticou-a – Você se estica todo…

– Seu nojento!! – Higuma ainda puxava a bochecha de Luffy e já era possível ver todos os dentes do lado esquerdo de sua boca. Ele já havia perdido um dente na briga. Sua gengiva sangrava no local. – Você me deve desculpas! Seu desgraçado! – nisso, tentou dar um soco na cara do bandido. Mas Higuma não tinha uma recompensa de oito milhões a toa.

– Homem-borracha… Tsc… – Disse ao conseguir se desviar do soco facilmente. – Cada coisa estranha que existe neste mundo não…?! – E em um rápido movimento, se virou, suspendeu o garoto pela bochecha, passou-o por cima de sua cabeça e o arremessou a mais de quatro metros de distância. Parecia até que o menino era um boneco de pelúcia, tamanha foi a facilidade do ataque. – Parece que descobrimos uma nova espécie. – Virou-se para o seu bando que estava ali assistindo de perto. – E se a gente vender ele pro circo…? Poderíamos ganhar uma boa grana, hein?

– Droga! – Exclamou Luffy ao se recuperar do último ataque que sofrera. Foi então que percebeu que caíra perto de alguns pedaços de pau que estavam encostados no muro de uma casa. Pegou um. Estava furioso, nunca havia ficado desse jeito. Queria matar aquele sujeito. – Você me paga!! – Correu em direção ao bandido, iria utilizar aquele pedaço de pau como um bastão. Queria esmagar a cara do sujeito.

Higuma riu, estava se divertindo com aquela situação. Observou o garoto correr em sua direção. Só estava esperando o momento certo para agir.

– Não insista… – Agora, pensou. E com um movimento preciso, levantou a perna e desferiu uma pisada na cara do Luffy. Sem o menor esforço, conseguiu imobilizar o garoto entre o chão e a sola de seu sapato. A luta acabou. Higuma poderia matá-lo simplesmente pisando em seu crânio com mais força. –Seu moleque! Eu só tava bebendo e conversando com meus homens… O que aconteceu, hein? Eu disse alguma coisa que te incomodou?

– Disse sim!! – Retrucou Luffy, tendo dificuldades pra falar por estar sob a sola de Higuma – Pede desculpas seu verme! E pare de pisar em mim!

——

Assim que soube o que havia ocorrido, o prefeito se pôs a correr de volta ao local aonde tudo acontecera. Logo atrás, Makino acompanhava-o com dificuldades, ainda recuperando o fôlego pela primeira corrida. Logo, avistaram Luffy sendo imobilizado pelo golpe certeiro de Higuma.

– Por favor, soltem o garoto! – O prefeito estava completamente desesperado – não sei o que o Luffy aprontou, e nem tenho a intenção de enfrentar vocês… Se preferirem, posso até pagar em dinheiro… – Então o prefeito se ajoelhou. Sua testa quase tocava o chão e mantinha as duas mãos espalmadas no solo. Era clara a sua posição de súplica. – Mas por favor… poupem a vida dele!!

– Seu prefeito…! – Luffy comentou ao ver aquele senhor se humilhando por ele.

– Viu como gente velha é mais sábia? – Higuma comentou olhando para Luffy, que continuava preso sob seu pé. – Eles sabem como contornar os problemas. Mas agora é tarde! – dessa vez, voltou-se para o prefeito. – Esse moleque não vai se safar. Não é sempre que conseguem me tirar do sério… Mas não vou deixar que um “borrachudo”como esse me faça de idiota! – Pisou ainda mais forte na cabeça do garoto, só para vê-lo soltar mais um urro de dor. – Ele me deixou muito irritado!

– Mas a culpa é de vocês!!! – Luffy insistiu – Seu macaco da montanha!!

– Ok, nada de vender pro circo. – Higuma disse como quem pensava alto. – Depois dessa, vai morrer aqui mesmo!!! – Enquanto falava as últimas palavras, o bandido sacara sua espada, levantou-a quase à altura dos olhos e então começou a baixá-la lentamente. Estava claro para todos os espectadores o que ele estava prestes a fazer.

– Luffy!! – Gritou Makino em completo desespero, sem conseguir pronunciar qualquer outra palavra.

– Por favor!!! Piedade!! – Ao lado da jovem, o prefeito implorou mais uma vez.

O que está acontecendo? – Uma sombra surgiu atrás dos dois. – Bem que achei estranho… – A sombra usava uma capa escura que ia dos ombros até a sua canela. – Ninguém veio recepcionar a gente no porto… – Makino virou-se e percebeu que a sombra usava um chapéu de palha. Seu cabelo era de um tom vermelho sangue.

– Capitão! – a jovem assustou-se.

Ué? São os bandidos do outro dia? – Shanks começou a entender o que se passava ali. Viu o garoto preso embaixo daquele sujeito e abriu um pequeno sorriso – Ô, Luffy! Cadê o seu soco tão forte quanto um tiro de pistola?

– Não enche!! – Luffy resmungou completamente enfurecido com o Shanks.

Piratas… ainda zanzando por aqui? – dessa vez foi Higuma quem falou – Resolveram limpar o chão da vila toda, é?

Shanks começou a andar em direção aos bandidos.

Não sei o que querem, mas é bom fugirem enquanto ainda podem. – Higuma advertiu Shanks. – E se chegar mais perto, vai levar bala, seu otário!

O pirata, mais uma vez, parecia ignorar completamente o líder dos bandidos. Continuo andando no mesmo passo. Parecia quase distraído.

– Não ouviu não?! – Falou um dos capangas de Higuma que estava mais perto do Ruivo. – Parado aí! – Sacou a pistola que estava em sua cintura e apontou para a cabeça de Shanks. – Ou te explodo os miolos, hein?! Há, Há, Há, Há! – Todos os outros ladrões do bando começaram a rir junto com ele, ao verem que o pirata parara.

Se apontou a pistola… – Shanks falara calmamente – Apostou a sua vida.

– Hã?! Do que você tá falando? – O bandido respondeu.

Sem nem olhar para o lado, Shanks levantou calmamente a mão esquerda e apontou com um dos dedos, a arma que o capanga de Higuma mantinha apontada para a sua bochecha direita.

Tô dizendo que essa coisa aí não é brinquedo pra ficar ameaçando os outros…

Mal Shanks acabara de falar isso e o som de um disparo ecoou no local.

Então ele começou a cair… Era impossível resistir a um disparo daqueles, feito à queima roupa. O bandido chegou sem vida no chão. Sem nem ao menos saber o que o atingira.

Shanks continuava imóvel. O atirador, a poucos passos atrás dele também. Em um braço mantinha o revolver ainda em punhos e em posição de tiro, no outro, levava um enorme pedaço de carne à boca. O atirador era muito gordo, usava óculos escuros, tinha um lenço amarrado na cabeça e sua camisa listrada mal tapava sua imensa barriga. Era impossível explicar como ele tinha aparecido ali. Simplesmente aparecera, apontara sua arma e acabara com a vida daquele que ousara ameaçar seu capitão.

Ninguém conseguiu acreditar no que acabavam de presenciar. A mesa tinha virado e os piratas tinham agido. Agora já era possível ver todos da tripulação do Ruivo.

Olha o que você fez seu filho da mãe!! – algum dos bandidos gritou. – Mas que droga! Isso foi golpe sujo!

– Golpe sujo? – Dessa vez foi o imediato do navio que falou. Estava com um cigarro na boca. – Vocês estão brincando, né? Tá vendo algum santo aqui? Nós somos uns malditos de uns piratas!

– Não enche!! – Outro bandido do bando de Higuma gritou. – O assunto aqui nem é com vocês!

– Escutem aqui seus bandidos… – Shanks parecia nervoso pela primeira vez desde que chegara naquela vila, há mais de um ano atrás. – Eu não me importo que taquem bebida ou comida em cima de mim. Podem até cuspir na minha cara, que em geral, eu levo na esportiva. Mas… – Neste instante, dava para perceber claramente que cada palavra que ele pronunciava era de uma seriedade que até então ele não havia demonstrado. – Seja lá qual for a razão, eu não perdôo quem machuca um amigo meu!! – Aquele não era o Shanks calmo e pacifico que todos da vila conheciam. Aquele era Shanks, o Ruivo, capitão de um temível navio pirata. E por entre as três cicatrizes que cortavam seu olho esquerdo, era possível ver o desprezo que ele carregava daqueles bandidos. Era possível ver em seu olhar, que ele estava pronto para matar.

Shanks… – Luffy que ainda estava imobilizado por Higuma, estava completamente surpreso com a reação do pirata.

Há, Há, Há, Há, Há! Não perdoa é?! – Parecia que Higuma não tinha levado o pirata ruivo a sério. Ele não devia ter olhado-o nos olhos. – Um pirata de merda que só sabe boiar no mar, acha que pode enfrentar bandidos de verdade como a gente?! – Voltou-se para o seu bando. –  Acabem com eles, cambada!

– Uooooh!! – Tirando Higuma, todos os bandidos atacaram de uma vez. – Morram!

Deixa comigo. – O imediato do navio se adiantou antes que Shanks agisse. Tirou o cigarro da boca. – Eu dou conta deles sozinho.

Os bandidos correram na direção dele. A maioria empunhava um sabre, mas alguns tinham pistolas. O imediato, carregava uma espingarda presa a cintura e acabara de decidir que para derrotar aquele pequeno grupo de ladrões, não precisaria sequer atirar uma bala. Optara por enfrentar todos os seus opositores, utilizando sua espingarda como bastão.

Assim que o primeiro ladrão chegou perto, reparou que ainda segurava em uma das mãos, o seu cigarro ainda aceso. Num movimento rápido e sem demonstrar nenhuma dificuldade, enquanto se esquivava da primeira lâmina que vinha em sua direção, apagou o cigarro no olho do primeiro sujeito que ousou lhe atacar. O bandido caiu, cego de um olho, no chão. Agora ele tinha as duas mãos livres . Poderia brincar a vontade.

——

Uau… – Ainda sob o pé de Higuma, Luffy estava atônito. Não conseguia acreditar no que vira. O imediato acabava de derrotar sozinho, sem disparar uma única bala, e sem receber um único ferimento, ao menos quinze bandidos. Impossível! Luffy pensou.

– Melhor não nos subestimarem, seu bandidos de merda. – Acendeu mais um cigarro. E dessa vez, apontou sua espingarda para Higuma. – Porque para vocês ganharem de nós, precisariam de pelo menos uma frota da marinha inteira para ajudá-los.

Não era só o garoto que não estava acreditando no que acontecera. Makino, o prefeito e inclusive Higuma estavam de bocas abertas. Era simplesmente inacreditável.

Ei… – Agora Higuma perdera completamente sua ironia e seu ar de deboche. Estava suando, e tremia feito louco. Estava com medo. – Peraí… Quem provocou a gente primeiro foi esse moleque!

– Ah, é, lembrei. A sua cabeça está a premio, né? – Shanks falou, ainda sério e sombrio.

Higuma gelou.

Mas ele não era tão burro assim. Ainda tinha uma carta na manga que pretendia usar. Pelo que vira, sabia que não tinha a menor chance com aqueles piratas. Mas ele ainda tinha o garoto sob seu pé. E ele podia fugir. Só precisava de uma distração.

No momento seguinte, Higuma jogou no chão uma bomba de fumaça que tinha em seu bolso e imediatamente foi encoberto pela cortina de fumaça. Todos foram pegos de surpresa pelo gesto e hesitaram antes de agir. Só foi possível ouvir o garoto resmungando alguma coisa lá do outro lado.

Quando a fumaça se desfez Higuma e Luffy já haviam desaparecido.

– Luffy! – O antes, sombrio e mortal Shanks, ficou completamente desesperado com o sumiço do garoto. Parecia que acabara de perder o bilhete premiado da loteria. Se comportava como uma criança. Colocou as duas mãos na cabeça. – E-e-essa não!! Dei mole!! Levaram o Luffy!! O que eu faço pessoal?!

– Calma capitão! Olha o vexame! É só a gente procurar o garoto! – Respondeu o pirata gordo.

Esse nosso capitão… – O imediato falou enquanto esboçava um sorriso. – Ele é uma figura…

——

Em algum lugar perto do porto, uma pequena canoa acabava de zarpar. Dentro dela, apenas um adulto e uma criança.

– Há, Há, Há, Há, Há!! Foi moleza escapar! – o adulto falou. – Eles nem imaginam que eu, um bandido das montanhas, fugiria pelo mar, né?! Eu te trouxe como refém, mas não preciso mais de você! – Higuma falava com Luffy. – Cinquenta e seis vieram me enfrentar no passado, e eu matei os cinqüenta e seis. Agora serão cinqüenta e sete.

Morra você!!! – Gritou Luffy que estava acuado em um canto, quando para se salvar, tentou atingir um soco no meio das pernas de seu opressor.

Mas novamente, suas tentativas contra Higuma eram inúteis. Ele se desviou facilmente com um movimento de cintura.

– Tchauzinho. – Disse Higuma com um sorriso sádico no rosto, enquanto desferia um pontapé na barriga do garoto. Seu chute fora tão forte que iria fazer o menino ser arremessado para fora dos limites do barco. O bandido tinha esperado por esse momento o dia todo.

Droga!! Droga!! –  gritou Luffy enquanto se contorcia no ar. Já estava no ponto mais alto de sua trajetória até a água, quando gritou suas últimas palavras antes que começasse a se afogar. – Malditos vermes!!! E eu não consegui dar um soco sequer neles!! Que droga!!

Tchibum.

Luffy não sabia nadar.

– Moleque idiota! Há! Há! Há! Há! Há!! – Gargalhou Higuma, enquanto começava a se lembrar daquela tarde agitada.

——

Mais cedo naquele dia, quando os bandidos das montanhas haviam acabado de entrar no bar da Makino, Luffy, que estava sentado perto do balcão, havia fervido de raiva ao ver que todos os ladrões estavam zoando a tripulação do Shanks.

– Vocês sem lembram daqueles piratas? – algum bandido havia comentado entre uma gargalhada e outra. – Um deles ficou encharcado de bebida, e eles não deram um pio! Bando de frouxos!! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há!!

Quando eu vejo um covarde desses… – Higuma havia comentado. – Me dá até raiva! Faltou um pouquinho só pra eu matar aquele cara… Piratas são assim mesmo, só tem pose…

– Cala a boca!! – esbravejou Luffy completamente irritado, interrompendo a conversa dos bandidos. – Pare de falar mal do Shanks!! Ele não é covarde!!!

– Pare com isso, Luffy! – Makino com medo, tentou intervir.

– Não fala mal do bando do Shanks! – continuou Luffy. – Eles são o máximo!!!

E assim havia começado toda aquela confusão.

——

Luffy caiu na água e a correnteza começou a distanciá-lo da pequena canoa. Ao longe, ainda era possível ouvir as risadas sádicas de Higuma.

Há! Há! Há! Há! Há!!

Imediatamente, o garoto começou a ficar fraco. Parecia que toda sua força se esvaia de seu corpo rapidamente. Nos seus últimos esforços, tentou elevar a cabeça para fora da água. Quando conseguiu, sentiu um misto de alivio e de medo. Alivio por conseguir respirar ar fresco novamente e mais ainda, por não estar mais naquela pequena embarcação com o seu raptor. Porque a sombra que ele acabara de ver se erguendo atrás da canoa, fez ele sentir o maior medo de sua vida.

A primeira coisa que conseguira reparar, foi que a criatura que ali estava, era colossal. Ela se elevava a mais de seis metro do nível do mar, e sabe-se lá quantos metros mais para baixo. Seus olhos amarelos, parecidos com os de um crocodilo, tinham o tamanho de uma bola de basquete cada um. Sua boca com quatro metros de largura, facilmente continha uma centena de dentes em cada gengiva, e mais parecia uma gigantesca coleção de espadas.

– Hã? – Higuma notou algo estranho se elevando atrás de si. – Q-que monstro é esse…?! – Foi tudo que conseguiu dizer. Suas últimas palavras.

Aquele terrível monstro destroçou, em somente um ataque, a embarcação e seu atual único tripulante. Enquanto atacava, foi possível ver que o corpo da besta era semelhante ao de uma enguia. Uma enguia absolutamente gigantesca!

Glub…Blub… Luffy voltou a se afogar.

O monstro notou a movimentação no mar a sua frente. Parecia que o jantar ainda não acabara. Restava a sobremesa. E ele ainda estava com fome.

Uaaaah! Glub… – Luffy tentou gritar enquanto ainda lutava do todas as forças para se manter com a boca fora d’água. Ele estava com muito medo. Iria morrer alí. Ou afogado, ou devorado. Não lhe restava salvação. – A-alguém… Socorro!!! Blub…

Quando a enguia gigante estava se aproximando, abriu sua enorme mandíbula para mais um ataque. Esse seria fácil.

Luffy já conseguia ver as presas do monstro acima de si. Sentiu que tudo estava acabado. Fechou os olhos. E a besta, fechou sua mandíbula e sentiu mais uma vez, o gosto de carne humana.

——

Ainda de olhos fechados, Luffy não sabia se estava vivo ou morto. Mas por alguma razão, se sentia mais calmo. Já não estava se afogando. Abriu os olhos e se surpreendeu.

– Shanks! – Nem um segundo havia se passado desde que quase fora comido vivo. Mas ao que parece, o capitão dos piratas havia chegado a tempo de lhe salvar.

O Ruivo segurava Luffy abraçado junto ao corpo. A fera estava a poucos centímetros de distância, pronta para mais um ataque.

Suma daqui. – Disse Shanks com a voz de quem não estava brincando nem um pouco, enquanto olhava diretamente no fundo daqueles gigantes olhos amarelos. O monstro hesitou. Mas a mensagem fora muito clara. Parecia que o pirata havia entrado na cabeça daquela enguia colossal e dito exatamente o que aconteceria caso ela não o obedecesse.

Os olhos da fera se arregalaram, ela havia compreendido a mensagem. O bicho virou-se imediatamente e fugiu o mais rápido que podia.

Luffy estava a salvo.

– Obrigado, viu Luffy… – Disse Shanks para o garoto. Sua voz agora voltara ao mesmo tom sereno de sempre. – A Makino-san me contou tudo. Você enfrentou aqueles bandidos por nossa causa…

– Snif… – Luffy começou a chorar.

– Ô, não chora, não. – Falou o pirata quando percebeu as primeiras lagrimas do garotinho. – Você é homem!

– É que… Shanks… – Luffy agora, mal conseguia falar direito. Não conseguia tirar as palavras de sua boca. Estava chorando compulsivamente. Depois de alguns estantes, conseguiu reuniu a coragem necessária pra falar. – O seu braço!!!

O capitão pirata Shanks, o Ruivo, continuava abraçando Luffy. Mas agora, só conseguia fazer isso com o seu braço direito. Pois fora devagar demais. Não conseguira chegar a tempo. Perdera todo o seu braço esquerdo, no momento em que resgatou o garoto do ataque mortal da enguia gigante.

Todo o lado esquerdo de sua camisa, que originalmente era branca, estava agora, da cor de seu cabelo. Vermelho. Vermelho sangue.

Shanks estava sorrindo.

– Um braço não é nada! É um preço barato… – disse tranquilamente. – Pra ver um amigo meu, são e salvo.

– UAAAAAAAH!!! – Luffy não conseguia parar de chorar.

——

Nessa tarde, Luffy descobriu porque Shanks não o levava em suas jornadas. Aprendeu a dureza que é o mar. Teve consciência de sua própria fraqueza. E acima de tudo, admirou o grande homem que era Shanks. E desejou do fundo do coração, ser como ele um dia.

——

O porto estava agitado naquele dia. Muitas caixas entravam e saiam de um navio em particular. No píer, uma criança conversava com o sujeito que parecia comandar toda aquela agitação.

– É verdade que vocês não vão mais voltar pra essa vila depois de hoje?! – Luffy perguntou surpreso.

Pois é. Ficamos aqui tempo demais. Chegou a hora do adeus. – Shanks respondeu enquanto ajeitava a capa preta, que agora mantinha cobrindo o braço que perdera. – Está triste?

– Ah… Eu tô triste sim… Mas não vou mais pedir pra você me levar, não. – Luffy comentou. – Resolvi que vou ser pirata por conta própria.

– Não ia te levar mesmo, tá? Blé! – o pirata falou enquanto mostrava a língua pro garoto. Adorava implicar com ele – E você nunca vai conseguir ser um pirata! – zombou mais uma vez.

Vou sim!!! – Luffy respondeu gritando, depois de mais uma vez cair na pilha de Shanks. – Um dia, eu vou reunir companheiros tão bons quanto os do seu bando! Também vou encontrar o maior tesouro deste mundo!!!! – Então, aumentou ainda mais a voz para que todo mundo que estivesse ali no porto ouvisse. – E eu vou ser o Rei dos Piratas!!!!

– Ah…! Quer ser melhor do que a gente né? – Shanks parecia estar gostando da atitude do garoto. – Ok, então… – Ergueu sua mão até a cabeça e tirou seu chapéu de palha. – Até lá… Fique com este meu chapéu. É o meu chapéu preferido. – Abaixou-se e colocou o chapéu na cabeça do Luffy.

Apesar se ser apenas um chapéu de palha, aquele era um chapéu bonito. A palha da qual era feita, era dourada e levemente brilhosa. Tinha aba reta, que era do tamanho certo. Nem pequena, nem grande demais, simplesmente proporcional ao seu tamanho. Na base do chapéu, bem aonde a aba encontra o local aonde o chapéu se fixa na cabeça, havia uma fita vermelha costurada por toda sua circunferência. Na cabeça de Luffy, ainda ficava grande. Mas logo ele cresceria.

– Venha me devolver ele, depois que você se tornar um grande pirata. – Shanks completou.

Ao dizer isso, se virou e caminhou de volta ao seu navio. Seus companheiros já haviam terminado os preparativos. Não dirigiu mais nenhuma palavra a ninguém da vila.  Não se despediu. Não precisava.

­- Ele vai ser um dos grandes, hein? – O imediato comentou quando Shanks chegou próximo a ele.

­­- É, eu sei. Ele se parece muito comigo, quando eu era criança. – Respondeu Shanks, não sem sentir uma certa nostalgia. – Ok, galera! Levantar âncoras! Içar velas! Nós estamos partindo!!

——

O barco navegou, navegou e sumiu no horizonte.

Mais uma vez, o vento soprou aqueles piratas para as suas próprias aventuras.

Já a aventura daquele garoto, começaria dali a dez anos, neste mesmo lugar.

——

Céu azul, sol brilhando e poucas nuvens. O dia estava lindo.

A maioria dos moradores da vila, estavam no cais do porto vendo uma pequena embarcação se afastar.

– Enfim ele se foi, senhor prefeito. – Comentou Makino, que apesar de ainda continuar muito bonita, já não era tão jovem quanto um dia já fora. – Vou sentir falta dele.

– É uma vergonha para a nossa vila, isso sim! – Respondeu o prefeito, de braços cruzados em sinal de reprovação. – Onde já se viu, querer ser um pirata?!

– Quem diria que ele ia mesmo, hein?! – Algum morador comentou numa rodinha de amigos.

——

– Hmm! Dia perfeito para navegar pelos mares… – Luffy estava remando para cada vez mais longe da costa. Em sua pequena canoa, não havia mais nada além dos remos e de um barril de água potável.

Desde a última vez que estivera ali, em uma canoa no meio do mar, sua aparência mudara bastante. Havia crescido, mas não tudo que ainda teria para crescer. Suas feições, claramente haviam amadurecido. Já não era mais criança. Além do mais, portava agora, um chapéu de palha que ganhara dez anos atrás. De igual, somente a cicatriz que tinha embaixo do olho esquerdo.

Vestia uma bermuda jeans que batia um pouco acima do joelho e um colete vermelho de botões, sem nada por baixo. Calçava chinelos. Basicamente, quem não o conhecesse, poderia achar que ele era um pequeno pescador solitário.

——

Depois de remar por algum tempo, a água na frente da canoa de Luffy começou a se agitar repentinamente. Instantes depois,  um monstro horrível se ergueu de lá. Era enorme e parecia uma enguia.

– Aí está você, dono do mar! – Luffy falou enquanto se levantava. – Escolheu mal o adversário hoje, hein?! Experimenta o golpe que treinei durante os últimos dez anos! – Se colocou em posição de luta: Mão esquerda no ombro direito. Mão direita baixa ao nível da cintura. Pé esquerdo à frente. – Gomu-gomu-no… – Virou o corpo levemente para a direita. – Pistol!!!

O que aconteceu em seguida, é difícil de acreditar. Em um movimento quase imperceptível, de tão rápido que fora, o braço dele esticou mais de oito metros e o punho do garoto simplesmente saiu como um tiro de pistola, em direção ao rosto da criatura gigante. O impacto foi tão grande, que foi capaz de erguer o corpo do monstro todo para fora da água e fazê-lo voar por pelo menos uns doze metros de distância.

Após o golpe, o braço do Luffy voltou ao normal imediatamente, como se fosse um elástico que havia sido esticado e que acabar de ser liberado.

Quando caiu na água, a enguia gigante fugiu imediatamente.

–  Aprendeu, seu peixe de merda? He, He! – Disse todo contente. – Agora o negócio é arranjar companheiros. Queria uns dez, no mínimo!! – Luffy pensou alto. – E também uma bandeira pirata… É isso aí, hora de partir! – Abriu um tremendo sorriso, ergueu os dois braços e sua intenção era gritar para que todas as pessoas que estivessem no mar pudessem ouvir. – Porque, eu vou ser o Rei dos Piratas!!!!

——

E o pequeno barco foi avançando pelas águas, atrás dos companheiros que o nosso herói ainda não conhecia. Era o começo de uma grande jornada!

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